Não tive coragem de escrever em Brasília muita coisa, afinal estava lá para tentar amenizar a dor e as lembranças ainda são muitas. Moramos juntos na tua infância naquele apartamento (e tu ainda ficaste por lá com teus avós mais um tempo) e conseguia te ver correndo pelos corredores, acredita? No dia 23/08 rezei muito, fechou um mês longe de ti e acho que estavas ao menos ao meu lado, pq a Lot vendeu como nunca e não parei um minuto sequer. Que bom, nessas horas o movimento faz a diferença e esperar apenas o passar do tempo não é tão bom assim, pq ele tb nos tira o presente e sabe-se lá o que traz no futuro.
Tuas tias Dri e Aline estiveram todo tempo comigo nesses dias, foi tão bom matar as saudades. Amigos a gente leva no peito toda vida e quando pode, gruda para tentar diminuir a distância. E foi o que fiz.
Domingo, na volta, parece que um ônibus passou por cima de mim e do teu pai. Pela primeira vez em toda minha vida sofri de voltar a Porto Alegre, minha cidade amada desde que me lembro por gente. Não pelo lugar, que admiro mesmo sob fortíssimas turbulências (que quase vomitei) ao ver de cima na chegada, nem pela chuva, que quando passa traz o céu mais límpido, azul e abençoado que conheço. Mas pela entrada em nossa casa, ainda coberta da tua presença-ausente (sempre que vamos abrir a porta ainda hesito em cantar "não tem cachorro, não tem cachorro, lálálálá… - que tu adoravas e começava a espirrar até abrirmos e corremos para o abraço). Choramos. Muito. Desesperadamente. Mas sabíamos que fazia parte do processo e que estamos lutando. Não queremos te esquecer, apenas transformar essa dor. Não sentimos remorso nem arrependimentos, temos plena certeza do quão bom foi tudo. Mas a dor é egoísta, não queremos aturar. Somos de carne e osso, mimoso, sentimos falta de tocar a matéria e tudo o que ela representa. Mas se todo mundo passa por isso, como não vamos passar? Vamos superar sim, até porque a cada dia lembramos de coisas tão maravilhosas que aprendemos contigo que chego a pensar que a inteligência humana só existe quando conseguimos captar esses ensinamentos tão sutis e transformadores.
Li sobre o Cavaleiro Sir. Lancelot hoje novamente, rompendo uma barreira de mais de década longe das aventuras de Camelot. Lembrei de como soube, anos antes, que meu cachorro-lobo teria este nome. E o quão nobre ele seria, com caráter e coração dignos de um cavaleiro. Nunca me enganei. E ainda te transformaste numa lenda (num modelo famoso, para ser mais exata), sendo citado e ainda aparecendo na mídia por causa da tua marca. Muito orgulho por fazer parte de tudo isso.
Ainda não sei quem será meu novo filho (s), tenho tentado ajudar e estar perto dos aumigos, mas acho que preciso de um tempo assim como precisei para te encontrar. Mas é assim mesmo, pois afinal, são os cachorros que escolhem seus donos.
Para encerrar, normalmente eu diria: "dorme com os anjinhos". Se bem que neste horário seria "vamos passear?". Mas acho que agora apenas deixo meu beijo mais profundo na tua alma, desejando que estejas bem e muito feliz. Coloquei uma foto tua comigo e teu avô no aniversário dele, acho que foi em abril de 2001, quando tinhas apenas um aninho (quase dois).
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
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